Decorreu dia 18 de outubro, a Cerimónia de lançamento da obra de Lígia Silva, jovem Gondomarense, vencedora da 29ª edição do Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres, “ama-me devagar mas com urgência", na emblemática Casa de Montezelo.
Foi com muito prazer que a Junta de Freguesia lançou, publicamente, a obra de Lígia Silva, premiada na 29ª edição do Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres. Acreditamos que este prémio contribui para descobrir novos poetas e que afirma a freguesia a nível nacional, numa altura em que a cultura está paralisada. Agradecemos a participação de todos os concorrentes, ao júri do Concurso, Dr. José Nunes Carneiro, Dr. Francisco Duarte Mangas e Dr. Arnaldo José Araújo, pelo prestimoso trabalho. Agradecemos ainda à Elefante Editores pelo apoio que este Prémio tem merecido.
Destacamos aqui algumas das palavras proferidas pelo Dr. Francisco Duarte Mangas, referindo uma vez mais, que o júri não teve dúvidas na escolha da vencedora e que a Lígia será uma grande poetisa.
A Cerimónia contou com alguns excertos da obra premiada, declamados por Cidália Santos, que mais uma vez nos encantou pela forma como nos transmite a poesia, intercalados com a atuação de José Alves, que nos presenteou com trechos em flauta transversal, a quem deixamos, uma vez mais, os nossos sinceros agradecimentos. Aproveitamos a oportunidade para agradecer a todas as entidades que se fizeram representar, bem como ao público em geral.
O livro poderá ser adquirido na Junta de Freguesia ou nas lojas Wook.
E porque a nossa poetisa nos encantou com as suas palavras, queremos partilhar o seu testemunho com todos aqueles que não tiveram oportunidade de estar presente: "O tempo transforma tudo em outra coisa. O difícil é esperar a passagem do tempo. Ter a sabedoria, a maturidade e a serenidade que só esse mesmo tempo nos traz. Há dias em que só escrever me salva. São demasiadas horas, demasiadas palavras por entregar. Demasiados sentimentos por mostrar. E apenas uma pessoa para o receber. É um peso meu que preciso com urgência dividir. E, pelo termo que usei, peso, não o entendam como algo negativo. Como se eu não gostasse de derramar todo o meu sangue numa folha em branco. Como se eu não gostasse de abrir todas as minhas entranhas para a poesia e sentir todas as minhas feridas, cicatrizarem, uma por uma, naquele que, por breves segundos, é apenas um pedaço de papel.
Quando estou, como vocês estão hoje, sentada numa cadeira, diante de algumas pessoas, das quais, na maior parte das vezes, apenas sei o seu nome, eu espero ouvir alguma coisa que transforme o meu dia. Que me faça pensar e até que me faça duvidar. Que mova tudo o que eu dava como certo e que desoriente todos os pontos cardiais da minha bússola. Eu espero aprender, ouvir o que ainda ninguém me disse e colocar mais um tijolo na construção do meu ser.
Queria neste momento construir um castelo dentro de cada um de vocês, dizer-vos o que ainda ninguém vos disse e mostrar-vos que talvez o norte seja mais próximo do sul do que aquilo que nos ensinam, mas temo que os meus tenros trinta e quatro anos não mo permitam. Então vou dizer aquilo que se calhar todos vocês já ouviram e aprenderam, mas, talvez hoje, o escutem de maneira diferente.
Vou citar uma frase do poema Tabacaria do Álvaro de Campos que, como todos vocês sabem, é um dos pseudónimos daquele que, para mim, é o maior génio da literatura, o Fernando Pessoa. “Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta, ao pé de uma parede sem porta”. Se me pedirem uma frase que me defina, eu digo esta, sem hesitar. Acredito que o impossível está à distância de uma atitude. De uma persistência coerente e entusiasta. E é fundamental acreditar. Porque, para mim, se é possível dentro da minha imaginação, também o será fora dela.
Tem sido mais difícil do que fácil. A casa às vezes parece um lugar muito distante. Um ponto brilhante ao fundo do caminho. Às vezes o caminho parece tenebroso, uma curva apertada e coberta de fumo. Às vezes vou sozinha nesse caminho. Muitas vezes vou sozinha nesse caminho. E foi nessa solidão que fui presenteada com as melhores companhias. Há pessoas que são luz e energia; que são pele, amor, entrega, bondade… e inspiram-me a ser uma pessoa melhor. A querer evoluir, sendo sempre quem sou. Porque isso é o mais importante, ser quem sou e vivê-lo em plenitude. Mesmo quando não sou entendida. Mesmo quando não pertenço às massas. Pois tenho de pertencer a mim. Só assim poderei ser feliz.
Só assim consegui estar aqui, a vencer um prémio por escrever aquilo que sou e aquilo que sinto. Pertenço a uma época à qual não me adapto. Pertenço a um mundo que condena o desconhecido. Que te condena por seres diferente. Um mundo doente. Um mundo carente. Carente de amor. Só o amor salva, mas a maior parte das pessoas ainda não percebeu isso. As pessoas têm medo quando lhes alteram as contas. Quando, no amor, um mais um, passa a ser um. Quando dois menos um, passa a ser zero. Quando precisas de ser muito forte para do zero, voltar a ser um. É importante transformar tudo em outra coisa. Eu transformo em poesia."